terça-feira, 25 de setembro de 2012

Capítulo 3 || A Lenda de Flogside


    Aquilo que em tempos para Demi, era uma alegria, tornara-se num pesadelo.

    Estava a ir para Flogside, já nem se lembrava de como era longa a viagem e que quando era pequena costumava enjoar. Tudo aquilo lhe parecia inesperado e questionava-se de qual seria a razão da súbita lembrança dos avós por ela.


- Estamos quase a chegar. – A voz da mãe parecia que vinha de longe.

   Apercebera-se então que tinha adormecido. Foi preciso mais meia hora para Demi se aperceber de que aquela paisagem e o local não lhe eram estranhos. Concentrando-se um bocadinho mais no lado de fora do carro, reconheceu um pequeno parque com escorrega e baloiços, onde em tempos tinha brincado com o seu grupinho de amigos. Agora era apenas um parque abandonado.

   Lembrava-se de como em tempos Flogside tinha sido uma aldeia cheia de alegria, luz e sobretudo turistas vindos de longe só para visitar aquelas maravilhosas casas de xisto e também para experimentar o prato tradicional da terra: Sopa da Pérola, que era costume servir-se no café/restaurante local do que em casa dos habitantes, pois a Sopa da Pérola consistia em sopa com vários ingredientes como cenoura, feijão e um bocadinho de ervas aromáticas para dar um sabor especial à sopa. Mas dentro desta continha uma pequenina pérola que dentro dela normalmente tinha uma mensagem do que ia acontecer à pessoa que a lia num futuro próximo.

   Mas agora Flogside parecia uma simples aldeia onde habitavam pessoas da 3ª idade, mas Demi sentia algo obscuro, como que se aquela aldeia tivesse um segredo, um segredo que só ela poderia revelá-lo. O seu pensamento foi interrompido pela mãe.

- Chegámos, Demetria!

- Que bom! – respondeu Demi com ironia.

- Pelo menos podias mostrar um bocado de felicidade!

- Isso é impossível porque eu não estou feliz e nem vou estar no futuro próximo.

- É muito difícil falar contigo. – disse Dianna a sair do carro e ir bater à porta de uma casa de pedras de xisto não muito grande. Demi conhecia aquela casa, onde passara uma grande parte da sua infância.

- Meu Deus, Dianna… como tu estás! – Disse a mulher que saiu de dentro de casa, seguida por um homem de cabelo branco…eram os avós paternos da Demi.

- Então como estão? – Dianna perguntou com a sua simpatia, enquanto beijava as faces da Sra. Carlotta e do Sr. John.



- Estamos bem, graças a Deus. Então a nossa netinha linda? – perguntou Carlotta a olhar para todos os lados menos para o carro, onde ainda estava Demi sentada com o telemóvel nas mãos no ar.

- Demi, sai do carro! – Demi saiu do carro ainda com as mãos no ar e nelas o telemóvel.

- Eu não acredito que não tenho rede aqui!

- Demetria, não sejas mal educada e cumprimenta os teus avós!

- Olá avó! Olá avô!

- Oh meu Deus, Demi! Como tu estás crescida!

- Estás feita uma mulherzinha. – disse John que até agora tinha estado calado.

- Anda cá dar-nos um abraço.

   Demi fez uma careta que só Dianna reparou, e lá lhes foi abraçar.

- Avó… está a esmagar-me!

- Tu estás tão magrinha, querida! – Comentou Carlotta.


   Demi deu um sorriso envergonhado. Nunca percebeu estas coisas dos avós dizerem que os netos estavam magrinhos. Eles queriam que os netos quê? Estivessem obesos? Sinceramente.

- Bem, eu vou indo! – Disse Dianna acabando com o silêncio.

- Não queres tomar nada? – Perguntou John.

- Não, não! Obrigada, ainda tenho que ir trabalhar.

- Como sempre! – Sussurrou Demi, logo a seguir recebendo uma cotovelada discreta da avó. Dianna pareceu nem ter reparado ou simplesmente ignorou indo tirar as malas de Demi que eram duas (só com roupa), depois outra mais pequena que tinha as coisas de higiene e outra do mesmo tamanho com o calçado.

- Credo! Tanta mala! – Comentou Carlotta colocando as mãos no peito.

- Pois… a Demi é assim. – Disse Dianna indo se despedir deles. Quando chegou a Carlotta, esta sussurrou ao ouvido de Dianna. - Por acaso não tens visto o meu filho?

   Dianna suspirou respondendo que o tinha visto na reunião de pais na escola de Demi.

   Carlotta ainda sofria um bocado com o divórcio do filho, pois gostava muito de Dianna e achava-a a mulher ideal para o filho.

   Mas agora não era altura para ficar triste, pelo contrario, estava muito feliz por ter Demi cá e também por o seu plano estar a funcionar lindamente.




quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Capítulo 2 || A Lenda de Flogside


- Só podes estar a brincar comigo!

- Não. Estou a falar muito a sério! - Disse Dianna sentada no sofá a olhar para Demi com uma cara muito seria – As tuas notas deste ano foram péssimas, nem sei se vais conseguir entrar em alguma faculdade. Para além do mais acho que te vai fazer bem passar estas férias de verão na casa dos teus avós.


- Sim, a fazer… deixa-me pensar… A FAZER NADA!


- Quando eras pequena, nós íamos para lá muitas vezes e eu não me lembro se tu dizeres isso. Aliás, tu adoravas aquilo e até tinhas amigos lá.


- Dizes bem, quando ERA pequena! E se esses amigos forem inteligentes como eu, estarão bem longe daquela terrinha.


- Bem, seja como for já aceitei a proposta dos teus avós e…


- Proposta? – Gritou Demi já toda irritada – Que proposta?


- Foram os teus avós que me ligaram à dias a perguntar se tu não podia ir lá passar uns dias e eu hesitei e disse que ia pensar no assunto. Mas depois vieram as tuas notas e liguei-lhes logo a dizer que tu ias passar as férias de verão e eles ficaram muito felizes. – Disse Dianna a sorrir.


- Tu não tinhas o direito de fazer isso sem me consultares!


- Já acabaste com o drama? Óptimo. Daqui a 4 dias vou levar-te lá.


  Demi subiu para o quarto contrariada e ficou a pensar no que a mãe tinha dito acerca dos amigos que ela fez quando era pequena lá naquela terra que já nem se lembrava do nome. Mas lembrava-se de que eram quatro amigos: 3 rapazes e rapariga que seus correspetivos nomes não se lembravam. Sabia que dos cinco, ela era a mais nova, mas adorava as brincadeiras deles, e as suas aventuras. Mas duvidava muito que eles fossem para lá nestas férias.


  As férias de verão eram 3 meses e meio, e ela arranjava sempre qualquer coisa para fazer: idas ao cinema, compras, concertos e muitas das vezes viagens para fora do país, isto tudo com os amigos, claro.


  Ela não se imaginava a passar estas férias fora de casa.


  Demi sabia que a mãe não gostava muitos dos seus amigos, tirando Selena que conhecia-a praticamente desde que nascera. De resto, Dianna achava os amigos de Demi irresponsáveis, imaturos, mimados e entre outras coisas. Isso tudo, parecendo que não, estava a reflectir nas atitudes e nas notas escolares de Demi. Ela nem sequer sabia o que queria fazer da vida. Gostava de pintar, mas não sabia se queria ser pintora. Gostava de moda, mas não sabia se queria ser estilista. Gostava de viajar, conhecer sítios novos, mas não sabia se queria ser guia turística. A vida de Demi estava uma grande confusão. Ela só pensava se não poderia piorar.